DO CAOS AO RISCO
É, gatas… deixa eu falar? Viver não é fácil. Dizem que Deus escreve certo com linhas tortas mas por que não deram um caderninho Cícero - pautado - pra ele? Até um Tilibra com foto do Gabriel Medina seria mais viável. Pior ainda é não ter um spoilerzinho sequer sobre a nossa própria vida. Livre arbítrio? Não Deus, por favor, manda em mim!
E então Ele mandou. Mandou eu vir aqui de cara lavada retomar essa newsletter, porque antes tarde do que mais tarde. E aqui estou, mais uma vez, aos seus pés (sim, aos seus que está lendo agora). Por favor, não me abandone como eu te abandonei por esses tempos. Tenho certeza que podemos criar uma relação decente (Deus que me disse). Me dê essa chance!
Agora sem mais delongas, vamos ao que interessa. Prometi que estaria aqui, semanalmente, na sua caixa de entrada. Isso vai mudar. A partir de agora nosso bate-volta vai ser quinzenal. Assim consigo ter mais tempo pra preparar algo que seja, de fato, interessante, sem me cobrar e me pressionar tanto — faço isso demais.
Outro ponto é que: prometi sempre trazer processo criativo, referências visuais, musiquinhas, pensamentos, e todo o resto que você já sabe. Mas isso não vai ser mais regra, tá? As seções se mantêm mas estarão presentes quando eu achar que tenha algo interessante a compartilhar. Não adianta vir aqui e indicar o novo álbum da Lady Gaga três vezes (period).
Dito isso, seguimos!
HOJE QUERO FALAR SOBRE MOVIMENTO
Eu costumo me engessar demais, isso é um fato. E um problema. Muitas vezes me pego parado, sem rumo, sem prumo, por não enxergar outras possibilidades para além daquelas que eu mesmo defini como possíveis caminhos. Mas quando esses caminhos ficam estreitos demais, é necessário mudar de rota. Movimentar.
O difícil é que o movimento vem sempre com um preço: o desprendimento. É preciso deixar algo no meio do caminho — um plano, uma expectativa, ou até uma versão da gente mesmo — pra que a caminhada se torne mais leve.
Talvez tenha sido isso que Deus quis me dizer quando me mandou voltar a escrever: não vai dar pra continuar do mesmo jeito, mas vai dar pra continuar.
Um pouco gospel essa introdução e conclusão, mas não quero mais escrever “Deus” com “d” minúsculo, acho que já fui castigado o bastante.
Thank you, next.
A TATUAGEM SE MOVE
A tela onde se faz a tatuagem é um corpo. Um corpo vivo. Esse corpo se movimenta por toda parte e passa por muitas transformações. E a tatuagem acompanha.
Quando penso em movimento, penso também na forma que o traço se acomoda – ou não – no corpo. Seja acompanhando o gesto, o músculo ou o contorno, a tatuagem faz do corpo parte ativa da composição. Composição essa que se torna essencial para que a tatuagem respire no corpo de quem a carrega.
Seja com desenhos figurativos ou abstratos, muito do que faz uma tatuagem ser uma incrível tatuagem é o encaixe e o diálogo que ela cria com o corpo.
O RESTO É LUXO
Li esses dias o livro “A crise da narração”, do Byung-Chul Han — sim, ele mesmo. O filósofo sul-coreano contemporâneo cretino que consegue ser mais pessimista que dois de mim juntos. Não desmerecendo suas reflexões — super contemporâneas e importantes pra entender o caminho que estamos tomando —, mas já tinha lido “A sociedade do cansaço” há um tempo e o nível de pessimismo do velho sempre me deixa cabisbaixo. Minha mãe diz que quem estuda demais fica doido e quando leio Han, entendo.
Mas enfim, fui teimoso e li. E, como sempre, me vi ali.
O livro fala basicamente sobre como perdemos a capacidade de narrar as nossas vidas num sentido real e profundo, com começo, meio e fim; com sentido, com pausa. Segundo Han, hoje tudo é só informação e o que é tido como narrativa — storytelling —, na verdade é storyselling — uma narrativa criada só pra vender.
Não há espaço para a experiência. Não há tempo para história. Só ruído.
Daí ele vem como se nada e joga: quem não narra, não elabora. E quem não elabora, não vive — apenas reage. E daí questiona: como criamos narrativas em stories que duram 24h? Em posts pensados esteticamente, comercialmente, estrategicamente?
Talvez por isso o movimento seja necessário, no sentido da estratégia mesmo. Pra sair do looping da estagnação e, quem sabe, inventar uma nova história. Se der errado, pode pelo menos dar um bom enredo.
PENSANDO ALTO
SE VOCÊ LEU ATÉ AQUI…
Meus parabéns! Venceu o cansaço, o caos e o Byung-Chul Han.
A partir de agora, prometo que vou tentar não sumir, mas se acontecer, já sabe: não fui eu que fugi, foi Deus que me deu um tempo.
Beijos em movimento, e até a próxima!
ONDE TE TATUO?
BELO HORIZONTE - agenda sempre aberta
RIO DE JANEIRO - 29/04 a 07/05
Desenhos disponíveis, portfólio e agendamento por aqui!